Eleições Europeias 2019

Eugénia Pires sobre a história e o impacto do euro

Em 1989, quando a França se deparou com a inevitabilidade da reunificação alemã, a união económica e monetária já fazia o seu caminho, orientada pelas linhas dos relatórios Werner, de 1970, e Delors, de 88, coordenados, respetivamente, pelo primeiro-ministro luxemburguês Pierre Werner e pelo então presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors.

Demorou uma década, entre avanços e recuos, a procura de consenso para a criação de um instrumento que trouxesse estabilidade económica, financeira e política aos estados da União.

Até 2 de Maio de 1998, Bruxelas. Nesse dia, onze dos quinze países da União Europeia oficializaram aquilo que chamaram de pelotão da frente da moeda única. Entre eles, Portugal, que estava “pela primeira vez, na primeira divisão da Europa”. Quatro anos antes do fim dos escudos, nem todos partilhavam do optimismo destas palavras do então ministro das Finanças António Sousa Franco, do governo socialista de António Guterres. Empresários e consumidores estavam apreensivos. A moeda única era um projeto nascido na cúpula europeia e poucos conheciam as suas implicações.

O outro ministro socialista que deu posse ao euro, Guilherme de Oliveira Martins, na véspera das novas moedas e notas entrarem em circulação, no último dia de 2001, ilustrava a sua dimensão política: “Em Maastricht houve naturais receios e resistências. Mas com o apontar para a criação de uma só moeda, foi dado o sinal inequívoco de que a Europa desejava construir uma solidariedade funcional que se pudesse tornar um antídoto contra os riscos de fragmentação e um factor activo de paz.”

Vinte anos depois do lançamento do euro – durante os primeiros três anos apenas usada para fins contabilísticos – , quais são as consequências de uma moeda comum a 19 países? Que impactos tem em estruturas produtivas e balanças comerciais tão distintas? Quem saiu a ganhar? Eugénia Pires, economista e ativista da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida, acredita que o projeto da moeda única serviu os grandes grupos económicos exportadores, cujo capital acumulado não repassa para o dia-a-dia dos cidadãos. “Na Alemanha, os trabalhadores também não têm beneficiado do euro.” Uma conversa sobre a entrada e saída do euro, sobre as oportunidades, as desigualdades, a crise da dívida de 2008, os desejos de união política e um orçamento comum da Zona Euro. O que é ainda possível fazer na moeda única? Deve-se considerar o seu fim?

Foi a 6 de outubro de 2023 substituída a citação “O euro chegou aos seus limites. Não vai ser nunca possível ir além disto” pela identificação do tema da entrevista, no título do artigo

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