“Uma proibição falhada”, por Maria Almeida

Olá.

Há uns tempos, a minha mãe impôs-nos uma proibição, como se faz às crianças que não se sabem comportar à mesa: “não se fala sobre política durante o jantar de natal”. Admito que terei contribuído para este desfecho ao longo dos anos. Lanço temas que sei polémicos, dou a minha opinião — na maioria das vezes divergente — e agarro-me com unhas e dentes às minhas convicções. Na luta de trincheiras que habitualmente se segue tenho apenas uma aliada: a minha sobrinha mais velha, que cresceu a ler mulheres revolucionárias de esquerda, para grande desgosto da minha irmã, a líder da barricada contrária. Desnecessário será, talvez, dizer que a proibição da minha mãe nunca é eficaz, e parte tudo para a discussão na mesma. 

Não sei se nesta altura do ano passas pelo mesmo, mas, se precisares de conteúdo útil para uma boa discussão entre familiares ou amigos, deixo-te aqui os trabalhos de 2023 que a redação do Fumaça escolheu destacar. Da ocupação da Palestina ao estigma associado à doença mental, do papel das polícias à vida nas prisões, não te faltarão temas de debate.  

Desassossego

Durante anos, um plano para revolucionar o acesso aos cuidados de saúde mental em Portugal espreitou desde a gaveta de vários governos. O seu atraso afeta doentes, famílias e profissionais. Nesta série sobre saúde e doença mental, vamos das experiências pessoais à política, das promessas à prática. É a série mais ouvida de sempre do Fumaça, com cerca de 150 mil downloads.

Ana Pereira Roseira sobre guardas prisionais

Esta entrevista foi feita durante a investigação de uma das próximas séries audiodocumentais do Fumaça, sobre prisões. Ana Pereira Roseira estudou, durante os seis anos do seu doutoramento, os percursos e testemunhos dos guardas de três estabelecimentos prisionais portugueses. Nesta entrevista, que publicámos em julho deste ano, fala sobre as suas funções ao longo da história, as suas condições de trabalho e a tensão entre securitarismo e direitos humanos.

Maria Dally e Siwar Assili sobre ser da Palestina no Estado israelita

Siwar Assili e Maria Dally nasceram num lugar a que chamam territórios de 48, ocupados em 1948. A maioria dos Estados soberanos reconhece esse espaço como Israel. Identificam-se como palestinianos, mas o seu passaporte é israelita. Moram a 30 quilómetros de Tel Aviv e aos olhos do Estado são israelitas árabes. O que é ser uma pessoa palestiniana aqui? E o que significa viver com o seu opressor? Publicámos esta entrevista em junho, depois de termos regressado de mais uma viagem à Palestina.

Ricardo Costa sobre os anos que esteve preso, dignidade e classe

Durante os seis anos que Ricardo Costa esteve preso, viu um sistema que impõe regras em sentido contrário às necessidades das pessoas reclusas. “É pensado para oprimir as pessoas e para lhes quebrar o espírito”, diz. Fala na primeira pessoa, retrata a sua própria experiência, mas o que conta ouvimos também de académicos e ativistas que entrevistámos sobre o sistema prisional ao longo dos últimos dois anos. Esta entrevista foi lançada em junho e faz também parte de uma futura série Fumaça sobre pessoas reclusas e prisões.

Trinta e dois e setecentos

O que era uma relação complicada com a comida desde pequena, chegou à adolescência como uma obsessão. O espaço que a alimentação e o corpo ocupavam na cabeça de Susana foi crescendo ao ponto de lhe ocupar todo o pensamento. Este episódio, que publicamos em setembro, é sobre o seu caminho com perturbações do comportamento alimentar.

Alberto Torres e Cristiano Correia sobre a história do sindicalismo na PSP

Uma entrevista sobre a história do sindicalismo e da organização de trabalhadores na PSP, desde o 25 de Abril até ao Movimento Zero, com Alberto Torres, antigo presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, e Cristiano Correia, secretário nacional do mesmo sindicato. Esta entrevista faz parte de um trabalho maior que o Fumaça tem estado a fazer sobre as polícias em Portugal, em parceria com a revista digital de jornalismo narrativo Divergente. Uma investigação sobre o policiamento de bairros guetizados, as pessoas que neles habitam e os polícias que lá trabalham, que podes acompanhar aqui.

Em 2024, prometemos-te mais histórias, reportagens e séries, com contexto e investigação para usares nas tuas discussões. Até lá, se quiseres e puderes retribuir, deixa-nos qualquer coisa dentro do sapatinho e faz uma contribuição mensal para que o nosso jornalismo continue.

Bom ano e que as celebrações sejam boas. 

Um abraço,
Maria Almeida

Subscreve a newsletter

Escrutinamos sistemas de opressão e desigualdades e temos muito que partilhar contigo.