Palestina

Khaled Yamani sobre a resistência armada palestiniana

Quando a resistência palestiniana à ocupação de Israel vem escrita nos livros de História, dificilmente se aprende outra coisa que não a caminhada de Yasser Arafat, lenço na cabeça, talvez óculos escuros e um sorriso, até à assinatura dos Acordos de Oslo, em 1993, entre a OLP (a Organização para a Libertação da Palestina) e representantes do Estado de Israel. Era o dia 13 de setembro quando Arafat se juntou a Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos da América, para, literalmente, dar a mão a Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, reconhecendo, pela primeira vez na história, oficialmente, o direito à existência do ocupante. 

Só que pelo meio de uma história louvada pela autodenominada comunidade internacional, digna até de honras de Prémio Nobel entregue a Arafat, Rabin e ainda Shimon Peres (então ministro israelita dos Negócios Estrangeiros), ficou silenciada outra parte da resistência palestiniana: a que recusou os Acordos de Oslo e a solução “dos dois Estados”, que se opôs ao reconhecimento do Estado de Israel, que disse e continua a dizer que à Palestina pertence toda a Palestina Histórica, “desde o rio até ao mar.”

Edward Said, autor e académico palestiniano, escrevia em outubro de 1993, um mês depois da assinatura dos primeiros documentos dos Acordos, a crónica “The Morning After”, onde se lê: “Em primeiro lugar, chamemos o acordo pelo seu nome verdadeiro: um instrumento para a rendição palestiniana, um Versailles Palestiniano”, referindo-se aos tratados assinados no final da Primeira Guerra Mundial, que fizeram com que a Alemanha assumisse culpa por todos os danos causados – seus e dos países da Tríplice Entente – durante a Grande Guerra. Hoje é considerado um acordo humilhante.

“Na história, em todas as ocupações, houve pessoas traidoras e pessoas resistentes. Na Palestina não é diferente”, diz Khaled Yamani, refugiado palestiniano nascido em Trípoli, no Líbano. “Os palestinianos que concordaram com os Acordos de Oslo mataram os nossos sonhos”, acrescenta. Khaled Yamani considera os Acordos de Oslo o maior erro de representantes palestinianos desde a Nakba (catástrofe, em árabe), quando mais de 800 mil pessoas foram expulsas de suas casas e mais de 500 vilas destruídas por forças militares israelitas. Não será com declarações institucionais ou negociações diplomáticas que a Palestina se libertará, afirma: “Temos de fazer alguma coisa.”

“Alguma coisa”, no entendimento de Khaled Yamani, significa recuperar a resistência armada contra o ocupante, um direito internacional reconhecido a povos colonizados pela Organização das Nações Unidas desde dezembro de 1982, pela resolução 37/43: “A Assembleia Geral […] reafirma a legitimidade da luta dos povos pela independência, integridade territorial, unidade nacional e libertação da dominação colonial e estrangeira e ocupação estrangeira através de todos os meios disponíveis, incluindo a luta armada.”

Conversámos com este membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina, considerada uma organização terrorista pela União Europeia, sobre a história da PFLP (no seu acrónimo original, em inglês) e da luta armada palestiniana. 

A conversa surgiu durante uma reportagem sobre a resistência palestiniana nos campos de refugiados do Líbano, que não tem ainda data de lançamento, feita com a jornalista Rafaela Cortez, que ouvirão durante a entrevista. Joey Ayoub, jornalista e investigador libanês, autor do podcast Fire These Times, fez parte da produção.

Título atualizado a 22 de fevereiro de 2023 substituindo a citação “Toda a Palestina é nossa. Não posso aceitar que ofereçamos a Israel isto ou aquilo” pelo tema tratado

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