Fumaça consegue maior crowdfunding português de jornalismo de investigação

Esta segunda-feira, o meio de comunicação social de jornalismo independente Fumaça encerra com sucesso a maior campanha de crowdfunding alguma vez lançada em Portugal para investigação jornalística. A campanha de financiamento coletivo encerrada a 10 de agosto recebeu 21 768 euros para apoiar a realização de três documentários áudio.

Pela primeira vez, um órgão de comunicação nacional permitiu à sua audiência financiar diretamente uma reportagem, apoiando individualmente uma de três investigações anunciadas. No espaço de dois meses todas as campanhas atingiram os objetivos de crowdfunding.

Entre as três séries, houve mil doações individuais. Estas peças serão produzidas pela redação do Fumaça durante os próximos meses.

Presos e Prisões. Com que Direito?, dedicado a escrutinar o funcionamento dos estabelecimentos prisionais e centros educativos existentes em Portugal, recebeu quase metade do total do valor angariado par as três investigações – 465 pessoas doaram 9 543€.

Bairros PERdidos, uma investigação sobre o Programa Especial de Realojamento, lançado em 1993, recebeu o apoio de 237 pessoas, numa média de 26 euros por doador. O documentário foi financiado com 6 191€.

Mulheres esquecidas. Um ar que se lhes deu, sobre as centenas de líderes, cientistas, artistas, políticas e ativistas à margem de livros e da maior enciclopédia online gratuita, recebeu 6 034€: 300 apoiantes contribuíram para que se recordem estes nomes ignorados pela História.

A PPL, plataforma de angariação de fundos que hospedou a campanha, ficará com uma comissão total de 7,5% (mais IVA), distribuída entre a própria empresa e as plataformas de pagamento que utiliza: 2 008,10€ irão para a PPL, deixando ao Fumaça os restantes 19 759,90€.

Sem publicidade ou qualquer dependência de empresas privadas, o Fumaça é detido por uma organização sem fins lucrativos, ambicionando ser o primeiro projeto de jornalismo português totalmente financiado por leitores e ouvintes. Durante o ano de 2020, aproximou-se desse objetivo: cerca de 30% das suas despesas estão já cobertas por donativos individuais, de uma comunidade com perto de mil pessoas. Defendendo o acesso livre à informação, sem conteúdos fechados, é cada contribuidor que escolhe o valor a doar mensal ou anualmente.

Este crowdfunding, lançado inicialmente em março de 2020, suspenso devido à pandemia de Covid-19, e relançado em junho, é parte da estratégia do Fumaça para garantir a sua sustentabilidade financeira. Os fundos angariados permitem ao projeto continuar a trabalhar e empregar jornalistas, técnicos de som, designers e especialistas de comunicação.

Está ainda planeada a angariação de fundos, nos mesmos, moldes para outras duas investigações: Dentro do armário do autismo, sobre o autismo na idade adulta; e A nova escravatura, sobre milhares de trabalhadores explorados e escravizados a trabalhar, hoje, em Portugal. Ambas estavam incluídas na campanha inicial, de março, ficando suspensas na reabertura do crowdunding.

O Fumaça foi lançado em 2016, sendo distribuído principalmente como um podcast. Os trabalhos do projeto jornalístico têm sido consistentemente galardoados, destacando-se o Prémio Gazeta Revelação 2018, atribuído à série “Palestina: Histórias de um país ocupado“.

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