“Deux baguettes e uns croissants”, por Lucas Grimault de Freitas

Olá,

Quem vos fala sou eu, Lucas, um entusiasta da comunicação com uma herança multicultural que me faz apreciar baguetes e croissants, prego em bolo do caco e feijão preto com farofa, aipim e arroz. Recomendo tudo, desde que comido separadamente.

É que até nasci cá, mas podia ter nascido do outro lado do Atlântico, no Rio de Janeiro, de onde é o meu pai; a meio do Atlântico, na ilha da Madeira, de onde é o meu avô paterno; ou deste lado do Atlântico, mas em Paris, onde nasceu a minha mãe.

Nasci no ano em que morreram dois ícones mundiais: Ayrton Senna e Kurt Cobain. Também o ano em que Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul, em que nasceram Justin Bieber, Harry Styles, Saoirse Ronan e Bernardo Silva, em que se celebrou os 20 anos do 25 de Abril, em que a “geração rasca” mostrou o rabo ao Cavaco e à Manuela Ferreira Leite e em que se estreou Friends na televisão.

Fui por isso uma criança criada nos 1990s e inícios dos anos 2000. Isso mesmo: sou um millennial, daqueles que brincavam com tamagotchis (não com sucesso, o meu pet morreu várias vezes), que jogavam com gameboys e consolas da SEGA e que trocavam tazos ou cromos da Panini nos intervalos das aulas. Daqueles que ouviam música sacada no Limewire ou eMule em walkmans ou nos primeiros MP3 (lembro-me de ter um preto da Creative). Numa altura em que não existiam redes sociais e onde se jogava futebol, à apanhada ou às escondidas até à exaustão. Nunca fui um ás do diábolo, nem do mikado, mas sabia (será que ainda sei?) alguns truques, os básicos. Era — e ainda sou — fã de Da Weasel, Sam The Kid, Eminem e Boss AC, mas também de Tom Jobim, Gal Costa, Rita Lee e Chico Buarque. Uns descobria aleatoriamente no MCM Top ou no VH1 Classic, outros com amigos em conversas infindáveis no MSN Messenger e outros em casa ou em viagens de férias para o Algarve com os meus pais e com o meu irmão.

Quis o acaso que nascesse em Lisboa e quiseram os meus pais que nos mudássemos para Almada, depois de um primeiro ano de vida no Lumiar. E é em Almada que me podem continuar a encontrar — provavelmente no Kurika, a comer uma açorda de gambas, ou no Dá Cá Cilhas, a beber uma imperial. Como todo o bom almadense, faço grande parte da minha vida em Lisboa. Estudei em Lisboa, Marketing e Publicidade, na ESCS e, enquanto estudava, fui dando uma perninha em hotelaria. E, graças a isso, desenrasco um razoável “portuñol” e tenho um inglês para cima de macarrónico para ajudar turistas perdidos. Já no francês, tenho um truque infalível quando não tenho a certeza se devo usar os artigos indefinidos un ou une para pedir, por exemplo, as supracitadas baguetes. Passei a usar deux baguettes — sai mais caro, mas nunca mais me enganei.

Depois da faculdade, tentei a minha sorte em agências de publicidade, mas acabei por estagiar no PÚBLICO, onde fiquei durante sete anos. Foi um dos melhores períodos da minha vida e onde aprendi tudo o que sei sobre a arte do engagement e das partilhas, mas também onde me deram confiança e autonomia para experimentar e arriscar. Ajudei a fazer crescer a marca e as submarcas do PÚBLICO em diferentes redes sociais, e, este ano, decidi que estava na hora de rumar a outras experiências profissionais. Abençoado pela “Nossa Senhora dos Likes”, surgiu-me à frente, quase como por magia, um anúncio que mudaria a minha vida nestes últimos meses. Acreditar num jornalismo livre e independente e identificar-me com os valores que guiam a redação do Fumaça foi o que me fez querer avançar com a candidatura. O Fumaça tem duas dezenas de prémios, quase 2 milhões de audições, perto de 2000 membros da comunidade e um trabalho rigoroso, autónomo e progressista que amplifica a voz de pessoas negligenciadas pelo poder, que muitas vezes não são ouvidas. É para ouvir estas pessoas e por acreditar nestes mesmos princípios que me quis juntar a esta equipa — maravilhosa, generosa e recheada de pessoas talentosas. Valorizo que seja uma redação plural, onde se consideram as opiniões de todos. E também acho importante participar de processos de decisão, de escrutinar e debater ideias, mesmo quando estas são matéria de discussão e geradoras de opiniões divergentes. Aprecio que a minha voz possa também ser ouvida e que exista, no Fumaça, espaço para debate entre todos e tempo para pensar.

Cheguei agora, não fez ainda um mês, para ajudar na gestão de marketing e da Comunidade, mas já me apercebi que aqui se faz de tudo um pouco e que todos olham uns pelos outros. Sinto-me em casa, até porque o frigorífico está sempre cheio, há pão, bolos e petiscos que todos trazem e que são divididos irmãmente. Há um sentido de fraternidade, de partilha e de união, que rapidamente me faz esquecer que estou aqui a trabalhar, no Disjuntor (o nome deste espaço que também alberga os vizinhos simpáticos da Divergente e da Traça).

Também já tive oportunidade de conhecer alguns de vocês, da Comunidade, na visita à redação de novembro. Fico à vossa espera para uma próxima visita, no 25 da Rua de Arroios. Não prometo truques de diábolo, mas posso levar uns croissants. 🙂

Ate já,
Lucas.

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