Transparência Radical: Contas do nosso primeiro trimestre de 2023

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Às vezes sinto que a minha credibilidade enquanto pessoa adulta é reduzida. Não sei se é pela aparência ou baixa estatura, mas as pessoas insistem em achar que eu não tenho idade para fazer determinadas coisas, incluindo o meu trabalho. Há uns tempos, não consegui convencer o meu sobrinho mais novo de que era jornalista. Na cabeça daquela criança de sete anos eu estudava, não trabalhava, e podia interromper o meu estudo a qualquer momento para ir colar cromos na caderneta dele. A minha sorte é que não havia muitos para colar. Tinha dezenas de cromos repetidos.  

Não deixa de ter alguma graça porque foi mais ou menos o que aconteceu quando começámos o Fumaça. Não sei se pela aparência ou baixa estatura (ninguém é particularmente alto nesta redação), mas muitas pessoas duvidaram de que conseguiríamos fazer jornalismo de investigação, criar uma redação de raiz com contratos de trabalho dignos, e chegar à sustentabilidade através de contribuições mensais. Éramos uns miúdos ingénuos que não sabiam no que se estavam a meter, diziam-nos. Mas se em relação ao nosso trabalho jornalístico as dúvidas se foram dissipando, há algumas que permanecem: será que conseguimos chegar ao objetivo de sermos totalmente financiados pela Comunidade Fumaça? Será que conseguimos ter tempo para chegar lá? 

A resposta a essas perguntas não é fácil. Há dias melhores, em que acredito mesmo que sim, como quando acabámos de publicar a nossa última série Desassossego e crescemos como nunca. E há dias piores, em que cedo às dúvidas, como os últimos quatro meses em que não publicámos nada de novo e fomos perdendo contribuições mensais, como é expectável nos longos períodos planeados entre as nossas séries narrativas. A tudo isto, acresce ainda não sabermos se vamos ou não receber uma bolsa estrutural de apoio ao jornalismo, como aquelas que conseguimos ao longo dos últimos anos, que nos permita pagar todos os salários da atual redação nos próximos meses. Isso continua a preocupar-nos. 


Já te tinha falado sobre isto em março, quando te apresentei o nosso orçamento para 2023. Talvez aches este discurso repetitivo, um pouco como os cromos do meu sobrinho, mas a verdade é que pouco mudou desde a última vez que fizemos um relatório de Transparência Radical, e não estaríamos a ser verdadeiramente transparentes se não te disséssemos como estamos hoje. 

Deixo-te aqui o resumo das contas do nosso primeiro trimestre. Podes consultar todos os pormenores aqui, onde passámos a discriminar todas as entradas e saídas de dinheiro do trimestre. Se notares que algo não bate certo, diz-nos. Queremos tornar cada vez mais abertas as nossas contas, mas ainda estamos a aprender como.

  • Nos primeiros três meses do ano, recebemos 30.007,89€ em contribuições mensais recorrentes e 3.535€ em contribuições únicas (para este valor conta o crescimento que tivemos com a campanha de início de ano e o final da série Desassossego). É metade do nosso orçamento.
  • Perdemos cerca de 300€ em contribuições mensais desde o pico de janeiro .
  • Recebemos 1.250€ pelo Prémio de Jornalismo – Direitos Humanos e Integração, atribuído pela Comissão Nacional da UNESCO e a Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros à série Exército de Precários.
  • Para além das despesas com as pessoas que trabalham na redação, como salários, subsídios de refeição e impostos, gastámos 1.282€ em freelancing editorial e 400€ em freelancing técnico.
  • Neste trimestre, gastámos um pouco mais do que o previsto, principalmente em angariação de fundos onde tivemos uma despesa de 2.332,66€, em viagens e conferências de jornalismo para conseguirmos angariar novas bolsas. No total, tivemos despesas de 60.030,09€.

Espero ter outras novidades para te dar daqui a três meses, daquelas que garantem salários e noites bem dormidas. Até lá, se acreditas no jornalismo de investigação feito com profundidade e tempo para pensar, que não tem de gastar semanas a negociar com fundações, faz uma contribuição mensal. O teu apoio é crucial para continuarmos. Se não recebermos uma bolsa nos próximos meses, não conseguimos manter a redação a trabalhar a tempo inteiro. Faz um contribuição mensal aqui.