“Não me deixes ouvir sozinha”, por Joana Batista

Olá.

No final do ano passado, no questionário que costumamos fazer todos os anos, voltamos a perguntar às pessoas como ouvem o Fumaça. Todas as hipóteses, tanto as sugeridas como aquelas que foram adicionadas como “outra”, têm uma coisa em comum: são experiências solitárias.

A escuta de podcasts é quase sempre solitária. Há contextos como, por exemplo, viagens de carro, em que se torna complicado sintonizar o mood de duas, três, quatro ou cinco pessoas. Por mais que tente convencer amigues, namoradas, família a ouvir um episódio do que quer que seja durante aquelas horas que vamos estar sem fazer quase nada, não tenho sucesso. O que me motiva a continuar a tentar é que gosto de falar sobre o que ouvi logo a seguir. Gosto de saber logo o que percecionei de forma diferente da outra pessoa, para onde foi o foco. A partilha traz-me tanto valor como ouvir o próprio episódio. Não é diferente da conversa que se tem quando se sai de uma peça de teatro, de um concerto, de um filme. Simplesmente é rara a vez que o fazemos quando consumimos podcasts.

Há uns meses, decidimos criar mais espaços de escuta coletiva. Começámos por fazer um primeiro teste, na antestreia da série Desassossego, com duas sessões esgotadas no Porto — uma experiência ainda caseira em que pedimos às pessoas que trouxessem os seus auscultadores de casa. A partilha foi tão bonita que decidimos fazer mais e investir no nosso próprio sistema de som para estes eventos: um sistema que sincroniza o áudio e 30 auscultadores para distribuir por quem participa. É com isto que estamos já a levar estas Escutas Coletivas pelo país fora, novamente com a série Desassossego. Contamos planear muitas mais à medida que vamos lançando novas histórias. Logo depois da escuta do episódio, fazemos uma discussão, em círculo, onde cada pessoa tem espaço para falar, discordar e partilhar o que quiser.

Pela primeira vez, queremos levar esta experiência ao exterior. Convidamos-te a celebrar os 50 anos do 25 de Abril com uma Escuta Coletiva e discussão de uma entrevista a José Tavares, anarquista, sobre sobre ação direta e o uso da violência política, no jardim do Goethe-Institut, em Lisboa. Caso a chuva nos persiga, temos o plano B de fazer a escuta na redação do Fumaça (não é longe do jardim). Temos planeadas duas sessões, no sábado, 20 de abril, com 30 pessoas cada: uma de manhã, das 11h às 13h, e outra à tarde, das 15h às 17h. A entrevista ficará disponível para toda a gente dias mais tarde, no 25 de abril, nas plataformas de podcast e no nosso website.

As inscrições estão limitadas ao número de pessoas definido por sessão. Quem faz parte da Comunidade, teve acesso prévio à inscrição, mas ainda temos lugares. Para participares, basta teres uma contribuição mensal ativa e inscreveres-te aqui.

Até já,

Joana