Fumaça angaria 64 mil euros em bolsas de apoio ao jornalismo

Desde junho, quatro organizações filantrópicas doaram ao Fumaça 64 mil euros para apoiar jornalismo independente. Ao abrigo do seu programa de “Interesse Público”, a Fred Foundation atribuiu uma bolsa estrutural de 30 mil euros. Já a Stichting Limelight Foundation alocou 24 mil euros para um projeto de reforço da segurança da equipa e da redação e da proteção de fontes confidenciais. De uma bolsa entregue pela Philea – Philanthropy Europe Association à rede Reference, para a produção do The Journalism Value Project, cabem ao Fumaça 4646,23€. E chega ainda uma doação de 6 mil euros da Rosa-Luxemburg Stifung, para concluir a série áudiodocumental “Fronteira do Medo”.

O ano de 2023 foi o primeiro em que as doações mensais recorrentes da Comunidade Fumaça garantiram mais de metade do orçamento anual da redação sem fins lucrativos. A angariação de bolsas filantrópicas para o jornalismo de interesse público permite ao podcast continuar a trabalhar em investigações sobre o policiamento de bairros guetizados, os direitos laborais de empregadas do serviço doméstico, a indústria da ajuda na Palestina, o sistema prisional português e o Programa Especial de Realojamento. Com a publicação destes trabalhos ao longo dos próximos anos, o órgão independente quer continuar o crescimento da Comunidade Fumaça até ser financiado totalmente pelas doações voluntárias do seu público, sem investidores, paywalls, publicidade, nem artigos patrocinados.

Nenhuma das doações recebidas permite qualquer influência editorial. A redação do Fumaça aceita bolsas apenas para trabalhos que já iniciou com financiamento próprio, evitando que a filantropia defina as prioridades editoriais. Seguindo a sua política de transparência radical, todos os contratos de financiamento alguma vez assinados pelo órgão de comunicação social estão disponíveis para consulta online. Também o orçamento e execução financeira da redação são de consulta livre.

A doação da Fred Foundation cobre custos estruturais da redação, como os salários da equipa. Financiada pelo magnata do imobiliário Fred Matser, a fundação holandesa foi criada em 1996 para “tornar o mundo de amanhã um lugar melhor”. O seu programa de interesse público atribui fundos para jornalismo de investigação, promovendo iniciativas que “expõem abusos, promovem a liberdade de imprensa e trabalham pela proteção de jornalistas”. O valor foi entregue sem um contrato a reger a sua aplicação, mas pode ser consultado aqui o email que define os termos da doação.

Já a Limelight Foundation financia especificamente o diagnóstico de vulnerabilidades de segurança na redação e o reforço dos mecanismos de proteção de jornalistas e fontes, respondendo a um aumento de ameaças, legais e online, e a dois episódios de brutalidade policial contra jornalistas do Fumaça, em dezembro de 2023 e fevereiro de 2024. Os fundos destinam-se à compra de equipamento e software, ao pagamento de consultoria da Freedom of the Press Foundation e à contratação temporária de um consultor de segurança interno. A carta-contrato que determina os termos desta bolsa-projeto é disponibilizada automaticamente para leitura mediante pedido de qualquer pessoa, aqui. Criada em 2021 pelo empresário tecnológico John Caspers, esta fundação holandesa apoia o “jornalismo e as organizações da sociedade civil dedicadas a um ecossistema informativo livre e forte na era digital.” Para o período de 2023 a 2026, a Limelight Foundation tinha atribuído já ao Fumaça uma bolsa estrutural trianual para cobrir custos de operação. 

Criada em 2021 pela união de outras associações representativas do setor, a Philea – Philanthropy Europe Association agrega 7500 fundações em trinta países europeus para fomentar um “ecossistema diversificado e inclusivo de fundações, organizações filantrópicas e redes a trabalhar para o bem comum”, potenciando o seu apoio a “uma sociedade pluralista, justa e resiliente, centrada nas pessoas e no planeta.” O seu apoio é para a execução do projeto Journalism Value Project, de que o Fumaça é parte, produzindo um podcast sobre as técnicas e estratégias que redações europeias usam para ser sustentáveis, com o objetivo de partilhar conhecimento e contribuir para os modelos de financiamento de outras redações. Não há contrato a reger esta doação, mas os termos do projeto original, co-financiado pela Comissão Europeia, estão disponíveis aqui.

A Rosa-Luxemburg Stiftung atribui financiamento especificamente para a edição de áudio, mistura e masterização de Fronteira do Medo, a série sobre o policiamento de bairros guetizados, as pessoas que ali habitam e os polícias que lá trabalham que as redações do Fumaça e da Divergente começaram a preparar em 2018. Através do seu escritório de Madrid, a fundação ligada ao Die Linke e financiada pelo estado alemão já atribuiu quatro bolsas de reportagem ao Fumaça desde 2020, incluindo uma no ano passado para este mesmo podcast narrativo. Na Alemanha, todos os partidos com representação parlamentar mantêm fundações com atividade internacional. Desde 1990, a Rosa-Luxemburg procura promover a “análise crítica da sociedade e fomentar de redes de iniciativas políticas, sociais e culturais emancipatórias”, desenvolvendo “conceitos e abordagens alternativos para um processo global de transformação social que permita a criação de uma sociedade mais unida e justa” centrada no socialismo democrático. O contrato que rege esta doação está disponível para consulta aqui.

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